as coisas que (não) abandonei
Volta e meia me percebo sentindo falta de algo que eu gostava de fazer e não faço mais. Não sei se essa falta é, de fato, uma saudade da sensação que aquilo me trazia, ou se é mais uma culpa por ter deixado algo pra trás.
Crescer sendo artista, aprendendo e amando praticar várias coisas me trouxe muitos hobbies e moldou minha personalidade, mas agora sou adulta e não tenho tempo nem vontade pra fazer tudo. Às vezes me deparo com vídeos ou fotos ou textos que mostram algo que já fiz, que já estive inspirada pra fazer. Algumas vezes dói um pouco, outras é como se me iluminasse e fizesse perceber: nossa. Eu sou capaz de fazer isso. Mesmo assim o teclado não sai de trás do armário, os lápis não saem da gaveta e o corpo não se move pra dançar.
Tentei aceitar que a vida é assim, apesar da sensação de fracasso e da vontade de voltar a ser quem eu era, de resgatar todas aquelas partes de mim que abandonei. No fim, ano após ano, ideia após ideia, continuei sentindo o aperto no coração que isso me causa.
Até perceber que, de repente, uma antiga paixão voltava. Anos depois, vinha a inspiração pra escrever ou a vontade de fazer colagens. Ao mesmo tempo, algumas coisas que eu fazia até então, já não pareciam mais tão interessantes. Foi aí que entendi que eu não abandonei nada e nada morreu em mim. Cada coisa que amei, que fiz, aprendi e me dediquei tá em mim, em algum lugar por aqui. Quando eu quiser, quando florescer, vai ser hora de fazer de novo, enquanto outras coisas talvez precisem adormecer.
As fotos de hoje refletem isso e me trazem uma saudade grande. Foi em 2019 e 2020 que estive mais inspirada pra fotografar a natureza e usava meu tempo pra criar pequenos cenários ou passear pelo quintal de casa registrando a plantinha de cada estação. O engraçado é que, na época, as fotos pareciam tão simples e sem importância, quando eu ainda não sabia qual era meu estilo (que era óbvio olhando agora). Eu precisei fotografar menos isso pra explorar outras possibilidades, descobrir novas paixões. Mas continua vivo em mim e eu sinto que tem voltado aos poucos.